O dia 19 de abril é em comemoração e homenagem aos povos originários do Brasil, uma data para ressaltar como o país foi originado pelos ancestrais indígenas e é permeado pela sua cultura. Em Mato Grosso do Sul são aproximadamente 100 mil indígenas de oito etnias diferentes.
A mudança de nome para “Dia dos Povos Indígenas” ressalta a verdadeira identidade de um dia para celebrar aproximadamente 380 diferentes etnias indígenas no Brasil. A mudança foi definida pela Lei n. 14.402 de 2022 e tem o objetivo de mostrar a diversidade das culturas dos povos originários. A alteração ocorreu com a aprovação do PL 5.466/2019 que revoga o Decreto-Lei 5.540, de 1943.
O professor, pós-graduado em Língua e Cultura Terena, Sérgio da Silva Reginaldo, relata que o “Dia do Índio” é uma mentira histórica, pois o nome surgiu devido a um erro náutico que aconteceu pela tripulação de Colombo, pensando que tinha chegado na Índia, e o nome sempre foi utilizado de forma pejorativa. “Com o termo “Dia dos Povos Indígenas”, isso ficou mais suave e confortável. Mas se for analisar mais a fundo o radical da discriminação ainda nos persegue (indí)genas. A mudança foi necessária nesse aspecto de amenizar essa mochila de preconceito que tem a palavra índio”, descreveu o professor. Uma das estratégias coloquiais que os povos indígenas utilizam para substituir o termo “índio” é a inclusão da etnia de cada povo no sobrenome, por exemplo “Sérgio Terena”.
O pesquisador em tecnologias digitais em comunidades tradicionais e grafismo e a cultura material de comunidades tradicionais, da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), José Francisco Sarmento, relata que “índio” é um termo muito genérico, que não considera as especificidades que existem nos povos indígenas. “Cada povo tem suas especificidades e diversidades de língua, cultura, práticas de espiritualidade, alimentação e pinturas/grafismos.” Para ele, chamar as pessoas com uma só palavra que engloba todo um conjunto de especificidades é estereotipar os povos.
Para Maicon Alves, coordenador-geral do programa Cidadania Viva, além de utilizar o termo indígena é importante ressaltar qual é a etnia, por exemplo, indígena terena, indígena guató, indígena guarani, dessa forma potencializando e protagonizando cada povo. “É necessário que as pessoas entendam que somos diversos, temos culturas e crenças diferentes. Só no Mato Grosso do Sul existem oito etnias e cada uma com as suas especificidades”.
Elvisclei Polidorio, Coordenador Regional da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) de Campo Grande, e mestrando em antropologia social, acredita que muitos dos “parentes” nem sabem que existe essa discussão, principalmente aqueles que não têm acesso às mídias digitais e outros tipos de canais de informação. No entanto, para os indígenas que estão na academia e no mercado de trabalho essa mudança do termo é fato e precisa ser levada aos outros.
Rafael Antonio Pinto, indígena terena, é professor na Escola Municipal Indígena Cacique Ndeti Reginaldo – em Dois Irmãos do Buriti -, relata que a troca de nome é para adequar a linguagem para a forma correta e levar o ensinamento para população da existência das variadas etnias indígenas. Muitas pessoas não têm conhecimento mínimo sobre a cultura indígena, sobre a diferença entre as etnias e isso propaga o preconceito. As pessoas costumam não respeitar o que elas não conhecem. “Dentro do Mato Grosso do Sul muitas pessoas não indígenas têm ainda uma visão pejorativa daquele índio de tanga, do livro didático, por isso existem as barreiras, por falta de curiosidade e conhecimento. É necessário mostrar até mesmo dentro das comunidades indígenas o porquê da mudança do termo”.
A língua é viva e muda constantemente, algumas pessoas ainda não têm conhecimento das mudanças e a elas deve ser levada a informação para que não utilizem termos ultrapassados que não relatam o que verdadeiramente querem expressar.
Bel Manvailer, Setescc
Foto: Saul Schramm (arquivo)
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