De um segundo para o outro, milhões de pessoas somem da face da Terra, deixando suas roupas, sapatos, até joias. O sumiço repentino resulta em acidentes graves no mundo inteiro e gera caos e pânico entre os que ficaram. Correm especulações: as pessoas foram levadas por alienígenas? Sofreram uma espécie de combustão espontânea? Nada disso. É só o fim do mundo chegando. No começo do propalado Juízo Final, Jesus Cristo retorna para levar seus verdadeiros seguidores embora, deixando o resto da humanidade entregue a guerras, desastres naturais e, claro, a ira do Anticristo, que alçado ao cargo de secretário geral da ONU. Este é o mote da série literária Deixados Para Trás, estrondoso sucesso de vendas do fim dos anos 2000 que rendeu diversos filmes de baixa qualidade nos anos seguintes e ganha nova edição no Brasil com o selo da Editora Thomas Nelson.
O lançamento original foi pensado para tirar partido da apreensão mundial com “bug do milênio”, a perspectiva de um caos nos sistemas eletrônicos que levaria o planeta ao caos. “O mercado editorial lucrou muito com as expectativas para o ano 2000”, disse o professor de história da Universidade de Wisconsin, Paul Boyer, na época. De fato, livros sobre o Apocalipse inundaram o mercado e a série escrita por Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins, com base em uma interpretação controversa da Bíblia, tornou-se um dos títulos mais bem sucedidos do lote. Vinte anos depois, a editora Bruna Gomes, responsável pela nova adaptação, garante que o apelo é o mesmo. “Nossos clientes cobravam a série, que está ausente do mercado há anos. A reedição chega como um título cativo e status de best-seller traduzido para 34 países”, diz. Os três primeiros livros da saga chegam às livrarias em fevereiro.
De olho em uma nova geração de leitores, a nova edição promete termos mais atualizados: saem os faxes e e-mails e entram apenas “mensagens” – “Pode ser de texto, de WhatsApp, do que o leitor quiser”, diz Bruna. Outra diferença em relação à publicação de “Deixados Para Trás” nos anos 2000 e agora é a invasão do universo gospel por elementos da cultura pop, avessos ao “reagendamento” esporádico do fim do mundo. “O cristão sempre leu ficção, mas não lia ficção cristã porque geralmente é caricata e mal feita”, diz o editor chefe da Harper Collins, Samuel Coto.
Nesta seara, um sucesso nacional é o da saga As Crônicas de Olam (Editora Fiel), do paulista Leandro Lima – uma ficção à la O Senhor dos Anéis, com direito a dragões, cavalos alados e espíritos mágicos e nenhuma menção à Bíblia ou alegorias claras do cristianismo, que já vendeu mais de 50 000 cópias. “Muitos autores tentam usar a ficção como instrumento de evangelização e o resultado não funciona. O mais importante mesmo é que a história seja boa”, ressalta o autor.
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